Forcado


OS GRUPOS DE FORCADOS

Paulo Paulino
Ex-Forcado do GFA Vila Franca de Xira

Algum enquadramento histórico


Perdem-se na poeira dos tempos as verdadeiras origens dos atuais Grupos de Forcados, em parte devido a alguma escassez de documentação histórica que as referenciem. As primeiras abordagens conhecidas com uma ténue ligação a este tipo de atividade remontam aproximadamente ao século XVII, altura em que grupos de homens provenientes das classes sociais mais baixas, quase exclusivamente trabalhadores agrícolas ou ligados ao manuseio de gado e usualmente bem constituídos fisicamente, colaboravam nas “Corridas Reais”, maioritariamente em recintos com proteções rudimentares – usualmente praças públicas no meio de localidades – propícios à tentativa de fuga dos toiros durante as lides. Com o auxílio de artefactos outrora utilizados na lavoura chamados "forcados", instrumentos parecidos com forquilhas – com um cabo longo de madeira tendo na ponta duas hastes bem abertas em metal – estes homens tinham a função específica de proteção ao camarote Real e por vezes intervinham com esses instrumentos para criar um obstáculo vivo às investidas do toiro nessa zona, através de uma técnica que ficou conhecida como "Casa da Guarda". Na prática, tratava-se de uma barreira de homens armados de "forcados" que tentava travar a viagem do toiro fixando-lhe os cornos com as hastes dos respetivos "forcados". Quando esta técnica não resultava por qualquer razão, havia que enfrentar o toiro numa luta corpo-a-corpo, algo que se pode considerar já um antepassado distante e distorcido da atual técnica da "Pega de Caras", mas efetuada de modo bastante mais rudimentar e sem qualquer tipo de organização.

Os nomes dados a este tipo de agrupamentos foi-se alterando ao longo do tempo consoante ia havendo um maior distanciamento das suas origens, funções, e ainda do formato das próprias corridas de toiros, que também evoluiu em termos de conteúdo e regulamentação. Se inicialmente foram apelidados de "Monteiros da Choca", esta nomenclatura poderá aparentemente ter sido transposta para "Monteiros de Forcado", além de poder ter também divergido para uma ramificação apelidada por "Moços de Curro". Estes últimos não estarão necessariamente conotados como pertencendo a uma linha antecessora direta dos atuais Grupos de Forcados. Refere-se antes a um tipo de agrupamentos surgido no início do século XIX que já participava em corridas formais de amadores com funções que se dividiam entre as responsabilidades dos curros das praças de toiros, a recolha dos toiros a pé ou a cavalo e, inclusivamente, por vezes a sua pega recorrendo fundamentalmente à técnica da “Pega de Cernelha”.

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É por altura dos finais do século XIX e primórdios do século XX que surgem os primeiros esboços de Grupos de Forcados propriamente ditos, que passaram, entretanto, a elementos efetivamente intervenientes nos vários espetáculos taurinos que nessa altura já proliferavam em Portugal. Os elementos constituintes dos Grupos de Forcados passaram a ser apelidados "Moços de Forcado", sendo que estes agrupamentos possuíam um elemento principal, o "Cabo", que comandava o Grupo e era o responsável por angariar contratos e forcados para o seu Grupo. É a partir desta altura que estes Grupos de Forcados adotam algumas regras nas atuações, nomeadamente uma formação usualmente constituída por 8 elementos em praça durante a pega, seja ela a "Pega de Caras", a "Pega de Costas" ou a "Casa da Guarda" e de 2 elementos quando tentada a "Pega de Cernelha".

Nos primórdios, a organização destes Grupos de Forcados funcionava ainda em moldes muito básicos. Conotava-se normalmente o Grupo com o elemento que funcionava como Cabo, sendo este o único elemento que vinha anunciado nos cartazes das Corridas de Toiros da época, como se fosse ele o proprietário do Grupo. No início do século XX existiram essencialmente "Grupos de Forcados Profissionais", mas este modelo de Grupo foi caindo em desuso, até se extinguir – ainda antes de meados do mesmo século – na proporção inversa ao surgimento de vários "Grupos de Forcados Amadores", evoluindo deste modo para o formato final do modelo atual de "Grupo de Forcados Amadores", isto numa altura em que estes Grupos já possuíam fortes ligações às localidades e regiões de origem e eram apelidados como legítimos representantes dessas origens. Pode ser de igual modo legítimo afirmar que a consolidação do atual modelo de “Grupo de Forcado Amadores” e o estatuto de “cabeça de cartaz” em Corridas de Toiros formais surge poucas décadas antes da segunda metade do século XX, salvo raras exceções anteriores a este período.


Os Grupos de Forcados na atualidade


O "Grupo de Forcados" na atualidade é equiparável a um "organismo" que possui a sua "vida" própria centrada num “ecossistema” bastante particular onde se movimenta e evolui. Certamente não existem dois Grupos iguais, mas há fatores comuns que regem e alimentam o funcionamento da grande maioria dos Grupos de Forcados.

Fundamentalmente há um historial e património de Grupo para ser respeitado, que nalguns casos é bastante rico e extenso e que para além de se tratar de um fator motivador e de orgulho para todos os elementos, acaba também por ser um fator catalisador da própria evolução do Grupo. O lema principal a defender num Grupo de Forcados é o de que os interesses e respeito pelo Grupo estará sempre acima de qualquer individualidade a ele pertencente.

Existe algo extremamente importante e único que é a “personalidade” que cada Grupo de Forcados possui. Com o passar dos anos os Grupos criam uma identidade própria com caraterísticas únicas e indissociáveis, que serve de guia a todos os elementos que defendem essa jaqueta, seja a interpretação das “regras” comportamentais dentro e fora da praça, seja a seriedade e respeito adotados no modo como encaram toiros e público, seja o modo de interiorizar, interpretar e colaborar na força mental coletiva do Grupo face aos problemas e momentos difíceis surgidos, ou até no próprio modo como encaram o sucesso. A força e o carisma de um Grupo de Forcados estão intimamente ligados aos traços que a “personalidade” desse Grupo emana.

Um Grupo de Forcados na atualidade não se limita a ser um conjunto de jovens e menos jovens que atua em corridas de toiros com a função específica de exercer a atividade de pegar toiros e ter um papel de figura preponderante na corrida de toiros à Portuguesa. Um Grupo de Forcados é uma instituição com forte componente popular e regional, que agrega elementos provenientes de origens sociais diversas e com níveis culturais bastante distintos e diametralmente transversais da sociedade atual, que se unem e defendem incondicionalmente essa instituição. Trata-se de um fenómeno sociológico enraizado em fatores inerentes a tradições populares e a uma cultura intrínseca que se manifesta numa convergência de ideais, vontades, interesses imateriais, cujas origens normalmente se baseiam em proximidade, família, amizade, valores morais, identidade cultural e elevado romantismo por se tratar de uma atividade em que a entrega na defesa da instituição é total – o que pode incluir a própria vida – e materialmente nada se recebe em troca. Nesta verdadeira “escola de vida” que é um Grupo de Forcados, a única expetativa final é o orgulho de defender uma jaqueta, uma região e uma cultura muito própria, procurando sempre honrar todos estes fatores em cada atuação.

Um Grupo de Forcados, estando substancialmente vocacionado para enfrentar os toiros na arena em corridas formais, não se confina apenas à participação nesses momentos. O Grupo organiza e participa em treinos destinados a criar e aperfeiçoar questões técnicas aos seus elementos, a grande maioria durante os meses do “defeso” em que não há corridas de Toiros, mas também num conjunto de eventos destinados a cimentar a união de Grupo. A organização de jantares com todos os elementos do Grupo, acompanhantes e alguns convidados são momentos maioritários durante a temporada visto que sempre que o Grupo atua em corridas de Toiros, as noites culminam com esta atividade, assim como nos dias em que há treinos. As “Festas Camperas”, momentos altos de qualquer temporada, são dias passados no campo com um vasto número de atividades que normalmente contam com a presença de todos os elementos, familiares, amigos, acompanhantes e também de grande número de convidados e até de aficionados incógnitos que apreciam estes momentos de comunhão na proximidade do Grupo, do campo, do gado bravo, de cavalos, no fundo da identidade popular que envolve esta cultura tão genuína num ambiente onde muitas dezenas ou algumas centenas de pessoas se divertem em sã comunhão, participam ativamente e colaboram no desenvolvimento do espírito de proximidade entre o Grupo e o seu meio circundante. Sempre que possível os Grupos envolvem-se em movimentos de solidariedade social dentro da diversidade de situações que este tipo de ações proporciona, cumprindo o seu papel de instituição perfeitamente inserida na sociedade e ciente das suas capacidades mobilizadoras na agregação de vontades para apoiar os mais necessitados. Bastantes Grupos de Forcados pertencentes a localidades e regiões onde as festividades populares tradicionais estão enraizadas, colaboram ativamente nas mesmas, criando os seus próprios espaços de diversão alusivos ao tema das festividades, completamente enquadrados com a tradição e o meio social onde a instituição e a grande maioria dos seus elementos se insere e ainda divulgando a sua área de intervenção a todos os interessados em alargar os seus horizontes culturais dando-lhes a conhecer parte do seu espaço e de filosofia de vida. Também há momentos mais intimistas e destinados a descontrair, criar mais e melhor espírito de Grupo, vocacionados para estreitar laços de relacionamento interpessoal através de festas específicas do Grupo onde participam os seus elementos, respetivas famílias e amigos mais chegados, muitas vezes na propriedade de algum elemento no ativo ou já retirado e que são sempre momentos bastante apreciados pela generalidade do Grupo.

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Alguns dos momentos que mais servem para criar um espírito de Grupo pronunciado são as digressões a destinos mais longínquos, alguns fora do Continente como as Ilhas dos Açores – no sentido inverso quando se trata de Grupos de Forcados Açorianos – ou outros países onde por vezes os Grupos de Forcados se deslocam para atuar, como Espanha, França, México, Estados Unidos, entre outros, para efetuar uma ou mais atuações, mas que acabam por durar vários dias, entre viagens e estadia. Também sucedem deslocações ao longo de grande parte do país para atuar em localidades diferentes numa série de corridas marcadas para dias sequenciais ou quase seguidos, mas que obrigam a que o Grupo viaje bastante e acabe por andar unido durante todo esse tempo. Esta estreita proximidade durante vários dias gera momentos sempre bastante apreciados pela cumplicidade que se cria em tudo o que faz parte do dia-a-dia do Grupo e da infinidade de pequenas histórias vividas com os elementos durante esse tempo, normalmente sem a presença de acompanhantes ou restringido a um reduzido número de elementos já retirados ou amigos, mas todos envoltos do mesmo espírito. As próprias dificuldades que por vezes ocorrem durante estas atuações são encaradas de um modo muito próprio por não se sentir a normal proximidade dos amigos, familiares e apoiantes habituais, nestas alturas o Grupo só conta com ele próprio.


A orgânica de um Grupo de Forcados


A título meramente indicativo, o número de elementos de um Grupo de Forcados varia normalmente entre cerca de duas a pouco mais de quatro dezenas de forcados no ativo, elementos esses divididos numa amplitude etária situada entre os 16 e os 35 anos. É natural que esta noção, muito relativa, obedeça a exceções que se afastam destes valores médios.

Existe uma hierarquia bem vincada em todos os Grupos de Forcados cujo topo é o Cabo do Grupo, ou seja, o elemento que comanda e tem a última palavra na coordenação e organização de cada Grupo de Forcados. A função de Cabo pode ser obtida consoante ordene a tradição de cada Grupo para a sua nomeação, sendo que o sistema mais comum é o Cabo ser eleito ou apenas aceite – quando não há mais candidatos – através de votação, pelos elementos que fazem parte do ativo do Grupo e apenas voltará a existir sucessão e uma nova nomeação quando esse Cabo abandonar o ativo como forcado desse Grupo, o que na esmagadora maioria dos casos coincide com o final da sua carreira como forcado. O Cabo não é obrigatoriamente o forcado mais experiente ou o que reúne as qualidades técnicas mais excecionais entre todos os elementos, embora tal possa ocorrer. Por norma, trata-se de um elemento verdadeiramente aglutinador que reúne o consenso dos restantes elementos para assumir a liderança do Grupo e que deve possui qualidades mentais, psicológicas e conhecimentos técnicos acima da média para gerir um grande número de personalidades e vontades, debelar eventuais problemas surgidos dentro ou fora de praça que envolvam o seu Grupo e no fundamental, criar o máximo de condições para defesa do coletivo e para uma constante evolução do Grupo que gere. Essa gestão inclui também uma importante ligação a fatores externos, nomeadamente tentando manter bons relacionamentos com empresários ou organizadores de corridas de toiros, com os ganadeiros e os artistas tauromáquicos e de modo geral, com os diversos elementos intervenientes direta ou indiretamente em Corridas de Toiros. Nas atuações em praça, compete ao Cabo definir quais os forcados que se fardam nessa corrida e a formação do Grupo para cada toiro, daí a vantagem deste elemento também possuir conhecimentos técnicos algo evoluídos que lhe permitam avaliar o comportamento de cada toiro lidado em praça para escolher com objetividade os terrenos mais propícios para colocar o toiro e o “desenho” da formação que o Grupo vai apresentar, adaptando as valências e competências dos forcados que possui à disposição nessa corrida. Nesta situação específica, cada Cabo possui sempre um conjunto mais restrito de elementos nos quais deposita muita confiança – sejam eles elementos no ativo ou já retirados – com reconhecida experiência, conhecimento do comportamento do toiro, da técnica da pega, familiarizados com as capacidades dos forcados fardados e que lhe dão algum aconselhamento ou opiniões sempre que requisitados para tal.

Há um conjunto de elementos no ativo, mais experientes que formam o verdadeiro “núcleo duro” de cada Grupo e que em conjunto com o Cabo – também ele parte integrante deste leque de elementos – são os executantes principais nas diversas atuações em praça e os dinamizadores de grande parte do dia-a-dia do Grupo fora das praças de toiros. Os elementos que formam este conjunto legitimaram o seu espaço e estatuto através do valor e capacidades técnicas permanentemente demonstradas em praça e também pelas qualidades postas em prática durante os anos de atividade, na defesa dos interesses e da harmonia do Grupo, colaborando e mobilizando-se sempre que necessário nas atividades ou na logística exigida para o funcionamento das várias atividades extracorrida em que o Grupo participa ou organiza. É também a estes elementos que compete a transmissão dos valores, caraterísticas específicas do coletivo e dos ensinamentos técnicos aos elementos mais novos e aos que se pretendem iniciar nesta atividade, assim como a responsabilidade no apoio à integração destes mesmos elementos ou de alguém vindo do exterior do Grupo, no ambiente, dinâmica e envolvência do Grupo de Forcados.

Os elementos situados na linha hierárquica mais baixa dentro da organização de um Grupo de Forcados – no que se refere aos elementos no ativo – são os forcados menos experientes, normalmente os que que ainda estão numa fase inicial de aprendizagem e que por inerência são aqueles em que o Cabo ainda não aposta para fardar na grande maioria das corridas de toiros em que o Grupo intervém. Trata-se de um número mais ou menos considerável de jovens candidatos a forcado do Grupo, naturalmente ávidos de mostrar qualidades que indiciem aos mais experientes e principalmente ao Cabo que possuem valor suficiente para poder ganhar o seu espaço no seio do Grupo. Durante esta fase de aprendizagem, estes jovens elementos, para além do necessário interesse em “mostrar-se” dentro da praça sempre que lhes sejam dadas oportunidades, também o devem fazer fora da praça colaborando ativamente em toda a vivência do Grupo. Estes candidatos a forcado passam pelas necessárias etapas de desenvolvimento que um forcado deve ter e que consta de fatores mais imediatos como a observação e reconhecimento do meio envolvente – o Grupo onde se está a inserir – e o necessário respeito pela hierarquia interna, quer ainda por outro tipo de fatores mais específicos, tentando absorver o máximo de informação que lhes permita dominar as técnicas da pega e alguma perceção dos comportamentos do toiro, seja essa informação obtida através dos ensinamentos recebidos dos forcados mais experientes, seja participando ativamente nos vários treinos de início de época ou seja ainda através de algum tipo de auto estudo. As principais caraterísticas de personalidade que irão ajudar estes elementos a evoluir dentro do Grupo, passam pela persistência na busca de oportunidades, na capacidade de entender o seu papel numa estrutura de Grupo e na humildade necessária para compreender esta necessidade de passar por etapas diversas durante a aprendizagem.

Inseridos nesta orgânica do Grupo de Forcados estão ainda os antigos elementos desse Grupo que no fundo serão sempre forcados embora já retirados do ativo. Trata-se de uma componente importante e bastante respeitada na vivência de qualquer Grupo, certamente já não tão presentes nem com uma assiduidade tão ativa como nos anos em que defenderam a jaqueta em praça, mas por norma e sempre que a vida lhes permite não se distanciam muito do seu Grupo. Estes elementos são observadores atentos nas corridas em que o Grupo atua e continuam colaborantes nos diversos aspetos da vivência do Grupo atual mantendo sempre algum espírito interventivo, dando conselhos aos mais novos, tentando seguir o crescimento dos vários elementos, criando ideias próprias sobre aqueles que consideram ser mais prometedores assim como da evolução do coletivo, para além de fazer questão em se interessar na partilha de momentos nos eventos em que o Grupo participa, sejam eles os treinos de início de época, sejam outro tipo de eventos organizados pelos forcados no ativo. Sempre que necessário e legitimados pelos seus conhecimentos, experiência e historial podem fazer soar vozes críticas para ajudar a corrigir eventuais desvios a padrões adquiridos, mas também estão presentes na primeira linha quando há que aplaudir os bons exemplos transmitidos ou a dar apoio e força em situações resultantes de momentos menos conseguidos, quando é necessário elevar o moral do coletivo ou de uma qualquer individualidade que enfrente alguma eventual crise de confiança. Alguns destes elementos já retirados foram os ídolos que serviram de guia para grande parte dos atuais elementos que cresceram a aprender e a querer um dia atingir o mesmo patamar dos seus mentores, algo para eles ainda muito longínquo, à época. Numa perspetiva diferente, mas objetivamente comum, estes antigos elementos quando verificam que estes jovens, outrora inexperientes e aos quais eles também deram a sua maior ou menor contribuição a crescer técnica e mentalmente, evoluíram e fizeram evoluir o Grupo para níveis equivalentes ou mesmo superiores em relação à sua época, acabam por ter grande dose de satisfação e um inegável sentimento de cumplicidade neste sucesso.

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Na envolvência do Grupo, há sempre um conjunto de familiares e amigos mais chegados a alguns dos elementos, de alguns amigos mais próximos do Grupo e de acompanhantes com alguma presença assídua e que mesmo não sendo ou não tendo sido forcados, não deixam de se sentir como uma pequena parte integrante desse Grupo de Forcados. Para além destes, há também um mais ou menos numeroso conjunto de admiradores e seguidores – maioritariamente incógnitos – com maior ou menor conhecimento do Grupo e que por norma acompanham com proximidade as suas diversas atuações e atividades, sem intervenção ativa ou direta no seu seio, mas que não deixam de ser também um componente da "vida" deste "organismo". Por vezes os Grupos deslocam-se para atuar em localidades algo distantes ou até fora do país e é comum haver alguém ligado ao Grupo ou que com ele se identifica de algum modo – elementos retirados ou naturais da localidade ou região do Grupo, entre outros – ou apenas por uma questão de partilha de valores comuns, gosto, simpatia ou amabilidade e que oferecerem a utilização das suas propriedades ou casas para dar apoio logístico ao Grupo, onde normalmente nada falta e tudo é feito apenas pelo prazer de colaborar e partilhar o espaço e o momento.


Postura dos Grupos de Forcados em praça


O modo de estar de um Grupo de Forcados em Praça é todo ele sinónimo de respeito pela tradição, pelo espetáculo, pelos restantes artistas intervenientes na corrida e pelo público. A farda de cada forcado interveniente deve estar limpa, bem tratada, completa, sem componentes em falta, o forcado também deve estar fardado a preceito, cabelo tratado dentro de moldes tradicionais e a barba feita ou bem aparada, dando no fundo a imagem bem demarcada do que é ser forcado Português, ciente dos bons modos e de que “sabe estar” num espetáculo sério que também é um momento solene.

Nas cortesias, ritual de inicio em cada corrida de Toiros e que é o momento de apresentação dos intervenientes na corrida à praça e ao público presente, participam oito elementos do Grupo antecipadamente escolhidos pelo Cabo, que entram em praça abrindo em “leque”, da direita para a esquerda até ficarem perfeitamente alinhados de frente para a direção de corrida e uniformemente espaçados ao longo do diâmetro maior na arena, deixando o corredor central aberto para passagem dos cavaleiros. Cada elemento leva o seu barrete sobre o ombro esquerdo e o seu “forcado” – representativo do ancestral utensílio agrícola que lhe está na origem da nomenclatura – na mão direita, sempre que estes ornamentos estejam disponíveis nessa praça ou o próprio Grupo traga os seus. Caso atue mais que um Grupo na corrida, cada qual aguarda a sua vez de entrada e fica alinhado e distribuído apenas num dos lados da arena, sendo dada a primazia, tanto de entrada em praça como de posicionamento à direita, ao Grupo que possui maior antiguidade. A saída das cortesias termina novamente com todos os elementos do Grupo parados e perfeitamente alinhados perto da trincheira na zona da direção de corrida, onde é feito um aceno de respeito – simbolizando o pedido de permissão ao diretor para atuar – por cada forcado já com o barrete na mão, sendo esta saída efetuada de modo alternado e com primazia para o Grupo mais antigo, caso não seja uma atuação em solitário. Esta regra respeitando a antiguidade de cada Grupo é também utilizada na alternância de atuação para as pegas da corrida.

Durante toda a corrida, o Grupo mantém-se unido na trincheira, do lado esquerdo da direção de corrida, sempre de frente para a arena e encostados à barreira, mas havendo mais que um Grupo atuante, os mais recentes em termos de antiguidade devem estar dispostos do mesmo modo, mas já distribuídos ao longo do lado direito da direção de corrida. A ausência de movimentações é uma regra fundamental na postura de todos os elementos do Grupo durante as lides, apenas sendo quebrada nas necessárias movimentações para posicionamento junto à trincheira antes do Grupo saltar para a pega, mas sempre com os cuidados necessários de modo a não distrair o Toiro com tais movimentos. Havendo necessidade de algum forcado – por qualquer razão de força maior – ter de abandonar o seu local, tal deve ser efetuado com concordância do Cabo e com os mesmos necessários cuidados em relação ao movimento no espaço da trincheira.

O posicionamento na trincheira, antes do Grupo saltar para a pega, é o reflexo da formação que o Grupo terá em praça durante essa atuação, com o forcado da cara mais à direita e os respetivos ajudas e rabejador à sua esquerda. O toque para a pega e o salto para a arena deverá ser efetuado numa altura em que o Toiro esteja numa zona que não interfira com a entrada dos forcados, o que ocorre normalmente após uma simbólica concordância entre a direção de corrida e o forcado da cara.

Se na sequência de alguma pega ocorrer algum forcado lesionar-se com aparente gravidade e necessitar de intervenção médica, o Grupo nunca deixa esse seu forcado sem acompanhamento nestes momentos sempre difíceis e complicados. Estando a corrida ainda a decorrer e na impossibilidade de os elementos fardados do Grupo abandonarem a trincheira, há sempre um ou mais elementos não fardados e presentes na praça que se mobilizam e acompanham todos os procedimentos levados a cabo para a recuperação do seu colega, seja limitando-se a aguardar o desenrolar da situação junto à enfermaria da praça, seja no seu acompanhamento, caso haja essa necessidade, ao Hospital.

No final das corridas, a saída de praça é interpretada consoante as tradições de cada Grupo, ou por vezes seguindo regras específicas e também elas tradicionais da praça onde atuam, havendo alguns Grupos ou praças em que a saída do Grupo é efetuada pelo centro da arena e outros em que esse abandono é efetuado ao longo do interior da trincheira.


Forcados, uma identidade Portuguesa


Os Grupos de Forcados são aquém e além-fronteiras, dignos e legítimos representantes de uma identidade muito própria que elevam bem alto alguns dos ideais e valores morais de um povo, transmitindo através da sua valentia, técnica, romantismo e escola de virtudes uma arte que se rege segundo uma envolvência de caraterísticas únicas, completamente enraizadas numa tradição e numa cultura muito própria e genuinamente Portuguesa.



LISTA DE GRUPOS DE FORCADOS (Associados da ANGF - Associação Nacional de Grupos de Forcados)



LISTA DE OUTROS GRUPOS DE FORCADOS (Não Associados da ANGF - Associação Nacional de Grupos de Forcados)



GRUPOS JÁ EXTINTOS



REGISTOS BIBLIOGRÁFICOS


Pecegueiro, Cidália Vargas (2018), "Profissões, Artes & Ofícios Tradicionais Portugueses", edição: Edição do Autor

Perez, El Terrible (1945), "Cavaleiros e Forcados", in Panorama: revista portuguesa de arte e turismo, Lisboa, Secretariado de Propaganda Nacional, n.ª 25-26 (disponível em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Panorama/N25-26/N25-26_master/Panorama_N25-26_1945.PDF)


REGISTOS VIDEOGRÁFICOS


https://archive.org/details/papafina/Especial+forcados+2017.mp4

https://archive.org/details/papafina/Momentos+temporada+2012+forcados.mp4

https://bit.ly/3fdwzFt

https://bit.ly/2XyFNWA

https://bit.ly/3a6Cqv5

https://bit.ly/3fwKOFv